Poesia é ponto de apoio e auxilia pessoas na superação da condição de rua

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Quem caminha pela região da rodoviária de Vitória pode ou já deve ter visto José Welton, um homem negro, de 35 anos, quase 1,80 metro de altura, sentado na calçada ou  recolhendo material reciclável. Mas poucos sabem que ele é um poeta. Nas ruas há mais de 10 anos , José tem encontrado nas oficinas que participa no Centro de Referência para Pessoa em Situação de Rua (Centro Pop) do Centro da capital a tranquilidade e apoio para desenvolver seu talento literário. 

Foi numa dessas idas ao Centro Pop que José escreveu a poesia "Do outro lado da vida", um poema em que fala da sua visão da vida. "Não tem nada mais importante aqui do que a vida. Tenho muita vontade de viver, de superar as dificuldades que eu mesmo me impus. A gente não foi feito para morrer assim. Estou com muita vontade de sair dessa dificuldade", falou ele.

Quando questionado em quais momentos "as chaves da virada são acionadas" José Welton responde em detalhes. "Minha mulher está grávida de uma menina, que vai se chamar Radassa. Será a nossa primeira filha juntos. Vai ser uma forma de começar a viver diferente. De ter uma nova vida. Uma nova chance. Construir uma nova família e olhar para frente e construir um futuro melhor para ela. Reconstruir e ser feliz", disse ele.

José disse que sua mulher, Rayane Vieira, de 34 anos, tem sido sua maior incentivadora. E ela aceita o título com orgulho. Rayane também escreve poemas e coleciona cadernos com suas escritas há algum tempo. Ao ser questionada sobre o texto que considera a mais marcante em sua vida, ela apresenta a poesia intitulada de "A queda".

"Esta marca o momento que fui para as ruas", falou ela. Sem mesmo perguntar, Rayane começou a descrever sua trajetória até encontrar nas ruas seu refúgio. "Já tinha problemas com drogas, mas nunca a este ponto. Eu comecei a usar por causa de um ex-marido. Ele usava. Eu tenho muitos traumas. Eu vivi uma relação com muita violência, agressões. Isso mexeu com o meu psicológico. Hoje, me tornei uma pessoa que eu mesma não me reconheço mais. Eu era uma pessoa tranquila", afirmou ela, com lágrimas nos olhos. 

Rayane contou um poco sobre a sia trajetória de vida: "no dia 19 de março deste ano, já estava grávida, deixei meus outros filhos (14, 12 e 4 anos) em casa e disse vou ali e nunca mais voltei. Este momento está sendo o mais doído. Tenho esperança de sair desta, reconquistar meus filhos e cursar enfermagem. Já estive perto de ter tudo isso, mas tive esta recaída. Mas vou continuar tentando", relatou ela.  

A coordenadora do Centro Pop Centro, Danielle Solano, disse que todos os que chegam ao espaço são acolhidos. "Acreditamos no nosso trabalho de acolhimento e cada ação de suporte são direcionados para que nossos munícipes alcancem a superação da situação de rua", disse ela.

Danielle contou que os Centros Pops Centro e Continental ofertam atendimento completo e humanizado, com uma equipe multidisciplinar composta por psicólogos, assistentes Sociais, além da oferta de assessoria jurídica. O local oferta quatro refeições diárias, kits de higiene e limpeza; atendimento de segunda a domingo, das 7 às 17h; circuito Funcional promovido em parceria com a Secretaria Municipal de Esportes (Semesp).

Também são ofertados encaminhamentos ao mercado de trabalho; atendimento nas unidades de saúde de Vitória, Educação para Jovens e Adultos (EJA), dentro das unidades dos Centros Pops;  acesso à cultura, lazer e esportes. Bem como, oficinas e atividades pedagógicas com educadores sociais e instrutores qualificados, proporcionando aprendizado e desenvolvimento pessoal.

A secretária de Assistência Social de Vitória, Soraya Mannato, fez questão de reafirmar o compromisso dos trabalhadores dos Sistemas Único da Assistência Social (Suas) e Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) na promoção da dignidade, inclusão e oferta de oportunidades a todos que forem alcançados pelos serviços da Assistência Social de Vitória.