Peça no Carlos Gomes mostra como a seca assola diversas áreas do país
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Por Vitor Lopes, com edição de Deyvison Longui
O clima não estava seco, quase havia chovido. O Centro de Vitória com seus prédios e população em ebulição mostrava-se como um contraste definidor: o que estava para acontecer no palco do Theatro Carlos Gomes durante o espetáculo “Agreste” seria um exemplo claro das contradições da sociedade brasileira.
Apresentado na noite do último sábado (23), dentro do 6º Festival Nacional de Teatro Cidade de Vitória, a peça que tem texto de Newton Monteiro, direção de Márcio Aurélio e atuação de Paulo Marcello e Joca Andreazza, apresenta a forma como a seca assola diversas áreas do país.
Carlos Antolini
Carlos Antolini
Afora o fato da peça ter sido diversas vezes premiadas em festivais nacionais de teatro, talvez o que mais marque em toda a encenação é a força das palavras proferidas pelos atores durante todo o espetáculo. Há um deslocamento claro do que seja a seca, do que seja o sertão, do que seja as dificuldades da vida, não só nesses ambientes de repulsa.
O texto de “Agreste” vai além da temática que é visível no palco, como no trecho “Eram tímidos como caramujo. Precaviam-se. Se chegassem muito perto, Deus sabe o que aconteceria. Tinha alguma coisa no amor deles que não devia acontecer. Mas aconteceu. Por meses, anos. Eles e a cerca. Ele deixava um beijo na madeira do cercado, ela colhia. Foram se estreitando. Chocando sua intimidade. Confiavam um no outro, que nem a terra na chuva”.
Sem dúvida, o texto de “Agreste” apresenta um novo modo de encarar dificuldades e como se dão as maneiras de resolver certos problemas, que vão além, certamente, da seca dos estados que sofrem com a questão.