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Prefeitura avalia uso do "mosquito do bem" na luta contra o Zika vírus
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Por Paula Falcão, com edição de Matheus Thebaldi


A Prefeitura de Vitória avalia o uso de mais uma tecnologia no combate ao Aedes aegypti. Trata-se dos chamados "mosquitos do bem", machos geneticamente modificados que, ao cruzar com as fêmeas – transmissoras de doenças –, geram ovos que não se desenvolvem e morrem na fase de larva, antes mesmo de virarem mosquitos, o que impede a transmissão de dengue, chikungunya e Zika vírus. A tecnologia foi apresentada na tarde desta terça-feira (15), na Prefeitura de Vitória.
A fase da larva é quando o Aedes aegypti fica mais vulnerável para ser combatido, pois seus ovos são resistentes e, depois que se torna mosquito, o combate fica mais difícil. Nos estudos preliminares, ficou comprovado que, a partir dessa técnica, a população do mosquito reduziu em até 90%.
"A tecnologia é simples e atua no momento em que o mosquito é extremamente eficaz: na reprodução. Cada fêmea pode gerar de 600 a mil novos mosquitos, por isso sua proliferação é muito eficaz. A tecnologia impede que essa nova geração dos insetos chegue à idade adulta. Todos os filhotes dos mosquitos gerados entre a copulação dos ‘mosquitos do bem’ e as fêmeas selvagens irão morrer na fase de larva. Com isso, é possível controlar a população dos mosquitos", explicou o biólogo e gerente de Negócios da Oxitec, empresa criadora da tecnologia, Cláudio Fernandes.
"Vitória tem uma média de 4,5 mil nascimentos de bebês por ano, e as gestantes podem sofrer com a principal consequência do Zika, que é a microcefalia. Nós temos que proteger essa geração de crianças que estão hoje indefesas, dependendo do nosso trabalho. São milhares de bebês no ventre de suas mães, e precisamos garantir uma vida saudável para elas cuidando de suas mães", afirmou o prefeito de Vitória, Luciano Rezende.
Validação
Ele ainda lembrou que o procedimento será adotado após análises de validação do Conselho Nacional de Biossegurança. "A Prefeitura agora vai estudar a viabilidade técnica, financeira e de biossegurança, além de discutir com as outras prefeituras da Grande Vitória um plano de ação em conjunto. Os técnicos ficaram de apresentar o mais breve possível uma proposta para a cidade de Vitória", complementou o prefeito.
"Essa tecnologia pode ajudar no combate às larvas e, assim, evitar a proliferação do mosquito. Esse é o jeito mais eficaz de combater o Zika, pois diminuir o número de mosquitos significa diminuir os casos de contaminação", afirmou a secretária municipal de Saúde, Daysi Koehler.
Como funciona
Os machos geneticamente modificados são soltos no ambiente e vão em busca das fêmeas selvagens – que são as transmissoras das doenças – para se reproduzir. O mosquito gerado desse cruzamento tem um defeito genético que impede o desenvolvimento da larva. Normalmente, um Aedes aegypti tem 30 dias de vida. Os geneticamente modificados vivem de dois a quatro dias. Por isso, precisam ser liberados a cada dois dias no ambiente.
É possível começar esse controle por bairros com maior incidência do mosquito. A quantidade de mosquitos liberados depende do nível de infestação e da densidade demográfica.
Tecnologia biossegura
Estudos apontam que o “Aedes aegypti do bem” é uma tecnologia biossegura dos pontos de vista vegetal, ambiental e animal, o que inclui a saúde das pessoas. São mosquitos machos que não picam e não transmitem doenças. Além disso, eles ficam apenas de dois a quatro dias e não se reproduzem com outras espécies, isso é, não se perpetuam no ambiente. Animais selvagens que possam vir a ingerir o mosquito geneticamente modificado não são prejudicados, pois os genes adicionais não produzem toxinas nem alergênicos.
Tempo de ação
O tempo de ação da tecnologia depende das condições de infestação e da urbanização da cidade. Com cerca de quatro meses de liberação dos “mosquitos do bem” no ambiente, já é possível ter resultados significativos na redução do Aedes aegypti. Entretanto, desde o momento em que os primeiros mosquitos são lançados no ambiente, já há resultados, pois as fêmeas que copularem com os insetos geneticamente modificados irão gerar insetos que morrem ainda na fase de larva.