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Prainha, Porto das Lanchas e Largo da Conceição: a história preservada no Arquivo Municipal

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Por Edlamara Conti (econtieira$4h064+pref.vitoria.es.gov.br), com edição de Andreza Lopes


Arquivo Público Municipal
Planta de Vitória por Andre Carloni, mostrabndo a Prainha. Data> 1885
Planta de Vitória de 1885, por André Carloni, mostrando a Prainha.
Arquivo Público Municipal
Praça Costa Pereira, paisagismo de Paulo Mottas. Década de 1930
Praça Costa Pereira, paisagismo de Paulo Mottas. Década de 1930. (ampliar)

Quantos capixabas sabem onde ficam a Prainha, o Porto das Lanchas e o Largo da Conceição? Esses foram os primeiros nomes da Praça Costa Pereira, um dos principais sítios históricos de Vitória. Do tempo em que era a antiga Prainha, no período colonial; recebendo aterros e práticas religiosas no final do século XIX; passando pela modernização, como centro da vida cultural e econômica no século XX; até a configuração atual, a praça sintetiza mais de dois séculos de transformações urbanas e sociais da capital.

Esses fatos marcantes da história estão registrados em documentos, como ordens de serviço e contratações, fotografias e projetos arquitetônicos, que integram o acervo do Arquivo Público Municipal. A coleção apresenta croquis da reforma da Praça Costa Pereira na década de 1920, pelo paisagista Paulo Rodrigues Teixeira da Motta, fotos do antigo Theatro Melpômene e da construção do Theatro Carlos Gomes - ícones da cultura capixaba da época.

Da Prainha ao Largo da Conceição

No século XVIII, na área onde, atualmente, fica a Praça Costa Pereira, havia uma pequena enseada, conhecida como Prainha. Pequenos barcos de pesca e de outras mercadorias atracavam no local, que também era conhecido como Porto das Lanchas.

Em 1755, foi construída a Igreja Nossa Senhora da Conceição da Prainha e o pátio da frente deu origem ao Largo da Conceição. Naquela Villa de Victoria, colonial, o largo tornou-se o espaço de convivência e religiosidade, que reunia pescadores, moradores humildes e escravizados em procissões, folias, atividades circenses e brincadeiras infantis.

Acontece que a antiga Prainha recebia as águas da Fonte Grande e de outras nascentes do Centro. Nas marés cheias, o Largo e todo o entorno eram sujeitos a alagamentos, de forma que pequenos aterros já eram feitos para conter as 'invasões'.

No governo de Muniz Freire (1892-1896), o Largo da Conceição foi ampliado, recebeu aterro e foi transformado em um jardim urbano. Com o advento da República, surgem novos planos para a cidade e a igreja de Nossa Senhora da Conceição foi demolida, em 1895, para a construção do Theatro Melpômene.

Coração cultural e econômico

O Theatro Melpômene, inaugurado em 1896, destacava-se por sua arquitetura - todo construído em madeira - e representou o início da modernização urbana de Vitória. Foi o primeiro a sediar uma sessão pública de cinema na capital. Neste mesmo ano, o espaço popular recebeu o nome de Largo Costa Pereira e se transformou no coração da vida cultural, voltada para a elite.

O espaço oferecia pequenos espetáculos, cafés, jogos e reunia personagens da política e pessoas das classes mais abastadas. Em 1922, um projeto do paisagista Paulo Motta reformulou o jardim, que recebeu árvores, coreto, canteiros e iluminação, e passou a representar o novo espírito que se pretendia imprimir à capital capixaba: próspera, bonita e moderna.

A reforma foi conduzida pelo engenheiro Moacir Avidos, filho do governador Florentino Avidos. O jardim passou a se chamar Praça da Independência, em homenagem ao centenário da Proclamação, por Dom Pedro I.

Foi durante a exibição de um filme, em 1924, que ocorreu um incêndio no Theatro Melpômene, causando mortes e dezenas de pessoas feridas. O Theatro foi demolido para a abertura da Rua do Reguinho, atual Rua Sete de Setembro. A vocação cultural da região foi confirmada com a construção do Theatro Carlos Gomes, pelo arquiteto italiano André Carloni. O novo teatro foi inaugurado em 1927.

Novas intervenções foram feitas na praça, que foi ampliada. Passados esses anos, o nome Praça da Independência ainda não era popular. Então, em 1928, o governador Florentino Avidos deu ao espaço o nome atual: Praça Costa Pereira.

Cultura, arquitetura e footing

Nos anos 1930, a praça se consolidou como ponto de encontro da sociedade capixaba. Era o local perfeito para a prática do footing - caminhadas leves feitas pelos jovens, muitas vezes com o intuito de paquerar, de encontrar um par. As famílias moradoras do Centro "desfilavam", passeavam, contemplavam, namoravam, faziam compras e se recreavam na praça adornada.

O Theatro Glória, inaugurado em 1932, se destacou no cenário. A vida cultural fluía naquele espaço, com eventos carnavalescos, com apresentações da Banda da Polícia Militar. A cidade crescia rapidamente e, a esta altura, a praça já era servida pelo bonde. A arquitetura eclética das construções ao redor, como o Hotel Europa (1928), o Banco Hipotecário, contribuíam para criar o ambiente de imponência e sofisticação do local.

A construção do Edifício Antenor Guimarães, em 1936, é um marco da verticalização do entorno da praça. Com sete pavimentos, todo em concreto armado, o prédio apresenta elementos da arquitetura moderna. Logo depois vieram edificações modernas, como o Edifício do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários (IAPI), seguido do edifício Palácio do Café, com a sede do Clube Álvares Cabral, na década de 1950.

Os teatros, os edifícios históricos e a movimentação de moradores e de clientes do comércio e dos serviços do entorno continuam a contar a história de uma cidade em constante movimento. Novos projetos paisagísticos foram realizados e as transformações sociais e econômicas do entorno refletem novas dinâmicas urbanas. A atual Praça Costa Pereira, com seus usos populares, mantém-se como espaço de convivência e cultura e em seu entorno estão importantes monumentos históricos.

Quem foi Costa Pereira?

José Fernandes da Costa Pereira (1833-1889) foi presidente (corresponde ao cargo de governador, atualmente) da Província do Espírito Santo de 1861 a 1863, tendo presidido as províncias do Ceará, São Paulo e do Rio Grande do Sul. Foi conselheiro do Império e foi ele quem garantiu verbas para a colonização germânica e italiana em solo capixaba, impactando diretamente na fundação de Santa Isabel, Santa Teresa, Alfredo Chaves e Rio Novo. Foi abolicionista e é patrono da cadeira nº 7 da Academia Espírito-Santense de Letras.

Arquivo Público Municipal
Quiosque da Praça da Independência. Década de 1920
Quiosque da Praça da Independência. Década de 1920
Arquivo Público Municipal
Foto tirada da Igreja do Rosário. Acima do teatro, construção da Catedral. Data: 1924
Foto tirada da Igreja do Rosário. Acima do teatro, construção da Catedral. Ano 1924. (ampliar)