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Estudantes imigrantes revelam dificuldades que encontram ao chegar ao Brasil
Publicada em 30/06/2016, às 10h27
Por Patrícia Arruda, com edição de Matheus Thebaldi


As dificuldades e desafios encontrados pelos estudantes imigrantes no País foram tema do debate “Imigração Estudantil no Brasil, na perspectiva dos Direitos Humanos". O evento aconteceu na Casa do Cidadão, em Itararé, na tarde desta última quarta (29), e teve como objetivo marcar o Dia do Imigrante na capital, celebrado no dia 25.
A professora do Departamento de Direito da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Brunela Vicenzi, que também é presidente da Comissão Interdisciplinar de Apoio aos Refugiados e Migrantes na instituição, fez um breve resgate histórico sobre a vinda de imigrantes para o Brasil.
"A política migratória no Brasil ocorreu, principalmente, após a promulgação das leis Eusébio de Queirós e do Ventre Livre, que fizeram com que os proprietários de escravos procurassem mão de obra estrangeira para a substituição dos escravos nas lavouras”, disse.
A professora ressaltou ainda que os direitos humanos e a política migratória no Brasil surgiram após o fim da Segunda Guerra Mundial, com a criação da Organização das Nações Unidas e adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948.
Dificuldades
Vicenzi revelou ainda que, apesar de haver o incentivo de alunos estrangeiros nas universidades brasileiras, por meio dos programas PEC-G (Graduação) e PAEC-OEA (Pós-graduação), os estudantes imigrantes ainda encontram muitas dificuldades com a língua e a integração social.
"Muitos dos nossos alunos, especialmente os oriudos de países da África, relatam que, além das dificuldades financeiras que eles enfrentam para se manter durante o período acadêmico, sofrem atos de racismo e xenofóbicos. O País precisa dar apoio aos estrangeiros que se encontram em nosso território. Para tanto, é preciso entender quais os direitos dos estrangeiros, a lei em vigor e as propostas legislativas", destaca.
Choque de realidade
O estudante do curso de Direito Adey Yowansutani, que é da República Democrática do Congo, revelou que sentiu um choque de realidade muito grande ao chegar ao Brasil. "A realidade que enfrentamos ao chegar aqui é muito dura. Sabemos que o Brasil é um país formado, em sua maioria, por negros e pardos, entretanto, não vemos eles na política, em cargos de chefia, na classe alta ou média ou na universidade. São lugares ocupados, na maioria das vezes, por brancos, enquanto os negros vivem, na maior parte dos casos, nas periferias", lamenta.
Yowansutani ressaltou ainda que o preconceito com negros imigrantes é ainda mais forte. “Temos dificuldades para alugar uma moradia, conseguir um emprego e nos manter, pois o custo de vida aqui é muito alto comparado ao nosso país. Quando falamos que somos da África, parece que a porta se fecha. Percebemos também que o tratamento dado a um imigrante europeu é diferenciado".