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Desenhos mostram perspectiva de pessoas em situação de rua sobre o trabalho infantil

Publicada em 18/06/2025, às 00h00 | Atualizada em 18/06/2025, às 17h07

Por Rosa Blackman (rosa.adrianaeira$4h064+pref.vitoria.es.gov.br), com edição de Andreza Lopes


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Mostra População em Situação de Rua e Trabalho Infantil: O que isso tem a ver?
Mostra "População em Situação de Rua e Trabalho Infantil: O que isso tem a ver? (ampliar)
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Mostra População em Situação de Rua e Trabalho Infantil: O que isso tem a ver?
Mostra "População em Situação de Rua e Trabalho Infantil: O que isso tem a ver? (ampliar)

"População em Situação de Rua e Trabalho Infantil: O que isso tem a ver?"  A resposta para essa pergunta, que dá nome a uma exposição, veio em forma de desenhos produzidos por assistidos dos Acolhimentos Institucionais para População em Situação de Rua e dos dois Centros de Referência para Pessoa em Situação de Rua (Centro Pop) de Vitória: Centro e Continental. A produção fez parte da exposição que fez este questionamento e, levou centenas de pessoas na tarde desta terça-feira (17) à sede do Instituto Fênix. 

Um público quase 150 pessoas foi conferir de perto as histórias de algumas dessas pessoas que viveu o trabalho infantil e vive em condição de rua. Um dos "acolhidos-artista" é Marcos Queiroz, de 38 anos, sendo 20 deles vivendo em situação de rua. Marcos utilizou uma folha branca, lápis marrom e preto para desenhar - uma espécie de papiro com os dizeres "Vivi bem. Vivi mal. Mas, vivi" - que à primeira impressão poderia ser considerada uma arte simples, produzida por alguém que só quisesse dar como cumprida a tarefa. 

Mas foi só perguntar o que significava para ele participar da exposição que Marcos abriu sua história de vida. "Eu sou o que escrevi", disse ele. Com esta resposta querer saber um pouco mais do passado surgiu naturalmente, com a mesma naturalidade em que ele respondeu: "O meu desenho fala dos sentimentos do passado, da minha trajetória. Aos 13 anos, já estava no mato,  trabalhando duro na roça. Isso atrapalhou meus estudos. Não conseguia frequentar a escola. Faltava muita aula para ajudar em casa", contou ele.

Ele começou a explicar o significado das frases escritas. "Vivi bem antes. Vivi mal depois de começar a trabalhar na roça. Não valeu a pena parar os estudos. Não tive progresso na vida. Eu concordo plenamente que o trabalho infantil leva a situação de rua. Olha eu aqui", disse Marcos Queiroz. Atualmente, Marcos esta acolhido no Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias, mais conhecido como Abrigo 1.

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Mostra População em Situação de Rua e Trabalho Infantil: O que isso tem a ver?
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Maria Correa, outra protagonista da exposição, contou sobre a alegria de ter um trabalho exposto junto com os de outros tantos. "Gosto de desenhar, escrever, fazer atividades", expressou ela. Ao ser perguntada sobre o que significava seu desenho (um quadro com maçã, coração, uma boca e, como ela mesma definiu, outras coisas que vieram na mente), Maria silenciou. Ela está acolhida no Abrigo 3. 

Com a ajuda das educadoras sociais que a acompanhavam, devido à sua deficiência intelectual, Maria começou a falar das violências e explorações que sofreu na infância. "Meu pai morreu e minha mãe sumiu. Aos 14 anos, fui para "casa de família". Eu cuidava da casa. Era muito difícil. Só ganhava roupa de doação. Nunca comprada para mim. Nunca ganhei um salário, um dinheiro. Era pesado", esboçou ela. 

As histórias de Marcos e Maria se somam às dezenas de outras desenhadas em forma de carvoaria, cabaré, muros, lágrimas e em outros relatos testemunhais da própria história de abusos e violências sofridas na infância, adolescência quando estavam em trabalho infantil, e a vivência  nas ruas, que na fase adulta também é carregada de privações de direitos e muitas vulnerabilidades. 

A gerente de Alta Complexidade da Secretaria de Assistência Social de Vitória (Semas), Anacyrema Silva, idealizadora da pesquisa e da mostra, explicou que essa é uma forma de mostrar para sociedade que a vinculação com as ruas, ocasionada pelo trabalho infantil, pode levar essa criança ou adolescente no futuro para uma situação de rua, pois o não lugar que emerge a partir da interrupção dos vínculos familiares é redimensionado nessa nova forma de vida concebível, ou seja, viver nas ruas, sendo esta uma alternativa que responde e dá sentido.

Anacyrema disse acreditar que desenhar pode ser uma poderosa forma de expressão para a população em situação de rua, sendo a arte, nesse contexto, uma ferramenta de voz, identidade e resistência. "Em meio ao silêncio social, à invisibilidade e ao abandono, o traço no papel se torna um grito silencioso. Por meio do desenho, essas pessoas conseguem dar forma aos sentimentos que, muitas vezes, são difíceis de verbalizar: a dor da rejeição, a saudade de um lar, o medo, mas também a esperança, os sonhos", destacou ela.

Enquanto visitava a exposição, a secretária de Assistência Social de Vitória, Soraya Manato, reforçou o papel e a importância do trabalho da Assistência Social no fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários na erradicação do trabalho infantil. "A sociedade precisa saber os danos causados nas crianças e que estes tem impacto, também, na vida adulta. Esta exposição é mais uma prova disso", frisou.

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