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Escola da Vida: ex-catadora de recicláveis faz reflexão com população de rua

Publicada em 02/08/2019, às 14h10 | Atualizada em 02/08/2019, às 14h21

Por Paula M. Bourguignon, com edição de Matheus Thebaldi


Guiomedce Paixao
Pastoral Jardim Da Penha Ercilia
Ercília conversou com pessoas em situação de rua em Jardim da Penha e contou como venceu na vida após trabalhar como catadora de recicláveis
Guiomedce Paixao
Pastoral Jardim Da Penha Ercilia
Encontro foi uma oportunidade para que pessoas em situação de rua reflitam acerca de seus sonhos

Ercília Stanciany da Silva Mozer, de 48 anos, é mineira, mãe de dois filhos, esposa, filha e amiga que adora dar um abraço, como a mesma gosta de mencionar.

Artista plástica formada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), ela trabalhou há 15 anos como catadora de materiais recicláveis junto de seu marido. Por isso, diz com orgulho: "Eu venci". 

Em um momento de reflexão, ela conversou com pessoas em situação de rua em encontro promovido pela Escola da Vida no Centro de Evangelização Santa Clara (Cescla), em Jardim da Penha, na manhã desta sexta-feira (2).

Ercília contou para os assistidos como venceu na vida e quais são seus legados. "O mais importante é lutar e acreditar nos nossos sonhos. Hoje me chamam de 'catadora de memórias' porque convido as pessoas a trazer suas histórias e mazelas e todos os preconceitos que já passaram na vida. Temos que lutar sempre", disse Ercília.

Lembranças

Ela veio para Vitória há 15 anos e foi trabalhar com o marido na cata de materiais recicláveis.

"Tive que enfrentar desde os 6 anos de idade o alcoolismo do meu pai, a fome e a violência doméstica. Todas as coisas muito pesadas. Na última briga que eu entrei para salvar um dos meus irmãos e para ajudar minha mãe, estava grávida da minha menina", lembrou Ercília.

Estudos

Após 25 anos sem estudar, Ercília voltou a estudar e concluiu os ensinos fundamental e médio. Após realizar o Enem, prestou vestibular na Ufes e entrou no curso de Artes Plásticas, no qual formou há dois anos.

"Meu sonho era voltar a estudar. Quando entrei para a Ufes, algumas pessoas achavam muito estranho uma catadora de lixo entrar em uma universidade. Não tem que ser assim. A universidade pertence não só aos catadores, mas também às pessoas em situação de rua, às donas de casa e aos garis. Ou seja, a educação é de todos nós".

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"Hoje me chamam de catadora de memórias porque convido as pessoas a trazer suas histórias e mazelas e todos os preconceitos", disse Ercília
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Ronaldo Souza saiu da situação de rua há duas semanas e está buscando um emprego

Sonho

"Minha força vem de nunca desistir dos sonhos. Desde que eu tinha 5 anos, eu tinha este sonho: me formar em arte. Enquanto adulta, descobri que eram as Artes Plásticas. Minha primeira força veio dos meus avós, que me ensinaram o que era Deus e me ensinaram a ter fé. Uma força que sempre me socorreu. Faça hoje uma coisa por você: Qual é seu maior sonho?'. O ano pode passar e as horas podem passar. Mas seu sonho sempre vai estar dentro de você", disse Ercília aos assistidos.

Há quatro anos como pessoa em situação de rua, Bruno Felix, 32, quer mudar de vida. "O que mais me marcou foi a história de vida da Ercília. Lembrou muito a história do meu pai. Ele lutou muito e foi um grande exemplo para não estar na vida que estou hoje. Gostaria de reescrever a minha história, mas, às vezes, falta coragem. Mas vou conseguir vencer, em nome de Jesus", disse Bruno.

Ronaldo Souza também participou da ação. Ele saiu da situação de rua há duas semanas e está buscando um emprego. "Acho que o encontro foi muito importante".

Ressignificação

"Nossa proposta hoje foi dar continuidade às ações desenvolvidas pela Escola da Vida e pelos nossos parceiros com os assistidos sobre a ressignificação da vida de todos nós. A Ercília é exemplo para todos nós. A proposta do evento também é aproximar e fortalecer esses vínculos entre os assistidos, a equipe e todos os nossos parceiros", explicou coordenadora da Escola da Vida, Marli De Faro.

Parceria

A Escola da Vida realizou a atividade em parceria com o Serviço Especializado de Abordagem Social (Seas), a Paróquia São Francisco de Assis, em Jardim da Penha, o projeto Girassóis e a Pastoral do Povo da Rua.

No dia 9, será realizada a oficina "Colcha de Retalhos", ministrada por Ercília, no Cescla, em Jardim da Penha, às 9 horas.

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"Proposta do encontro é aproximar e fortalecer esses vínculos entre os assistidos, a equipe e todos os nossos parceiros", explicou Marli
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Evento foi uma parceria da Escola da Vida com entidades parceiras da Semas

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