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Carnaval 2023: do Nordeste para o ES, a Jucutuquara desfila uma história de amor

Publicada em 12/02/2023, às 00h10 | Atualizada em 12/02/2023, às 00h26

Por Brunella França, com edição de Pedro Vargas


Foto Divulgação
Jucutuquara
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Jucutuquara

Com direito à sanfona no carro de som, abusando do xote, forró e xaxado "gonzagando" seu samba enredo, a Unidos de Jucutuquara levou para o Sambão do Povo um enredo sobre a migração de nordestinos para o Espírito Santo. "Onde ocê foi morar?", desenvolvido pelo carnavalesco Osvaldo Garcia, contou histórias de migrantes que escolheram as terras capixabas para viver.

"Passei 10 anos com a escola, saí e agora estou de volta porque tinha essa sensação de que ainda não tinha cumprido meu dever aqui. É uma comunidade que eu gosto muito. O nosso samba contagiou todo mundo, fizemos um carnaval com a cara da nação: alegorias muito grandes, alas colorida e a nossa surpresa, o Trio Forrozão no meio da bateria", contou o carnavalesco.

O carnaval da coruja começou lá no interior do Nordeste, foi descendo o mapa numa viagem de cores, sons e culturas, até chegar à capital capixaba, onde Aluísio, personagem do enredo, fez morada e construiu um legado de amor. A escola mostrou que, com os migrantes, veio também a cultura nordestina, que acabou se misturando e influenciando manifestações culturais capixabas.

Com a escola desde 1972, dona Marisa Barcelos, primeira porta-estandarte da Nação, entrou à frente da escola. "Fui a primeira mulher da escola. Estar aqui no Sambão é uma renovação da nossa gente, a emoção é maior ainda, a gente vem pra levantar o Sambão do Povo", afirmou.

A rainha, Schyrley Moura, cumprimentou muitos componentes na concentração e estava muito emocionada. "Às vezes faltam palavras, as sensações são as melhores, a energia das pessoas, o amor de quem está aqui é inexplicável, só estando junto para saber. O Carnaval de Vitória é amor e respeito ao pavilhão", foram as palavras de sua majestade!

O desfile, num ritmo gostoso, agradou o público presente no Sambão do Povo, que sambou e forrozeou com a escola do início ao fim. A bateria fez festa e misturou a batida da zabumba com o samba enredo. Na dispersão, teve grito de "é campeã" para a Coruja!

Eu vim de lá

O desfile da Jucutuquara começou no Nordeste. Sob responsabilidade dos coreógrafos Andrezinho Castro e Bianca Corteletti, a comissão de frente entrou na avenida carregando lembranças e devoções das terras nordestinas, uma composição poética para falar da migração. O tripé, uma grande mala cheia de sonhos, de esperanças, coragem e fé.

As baianas da Coruja, cuja fantasia era "Lavando cores e encantos", representavam as lavadeiras que se espalhavam ao longo do rio São Francisco com suas bacias de roupa e entoando os mais diversos cânticos.

O rio São Francisco, aliás, o maior do Nordeste, e carinhosamente chamado de Velho Chico, berço de lendas e mistério, inspirou o carro abre-alas da escola, no qual se misturavam as carrancas, a lenda do sono, o caboclo d'água, a serpente da Ilha do Fogo, Mãe d'água e o minhocão.

Logo atrás da alegoria, Breno Lima e Gessya Santana, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, representavam as águas de Opará, o mar que é rio, o rio que é mar. Os pescadores e as festas de São João fecharam o primeiro setor do desfile

Foto Divulgação
Unidos de Jucutuquara
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Unidos de Jucutuquara

Passei por acolá

A viagem do migrante nordestino a caminho de Vitória seguiu. A ala do passo marcado da escola, trabalho da coreógrafa Giovana Gonzaga, desfilou como "Parafuso de Lagarto". No enredo, o personagem condutor do desfile teria passado pela cidade de Lagarto e observado a manifestação dos parafusos, que remete ao período colonial, dos grandes engenhos de cana de açúcar, quando negros escravizados tentavam escapar de seus senhores enrolados em anáguas das sinhás.

Mandacaru, uma das flores mais famosas do Nordeste e característica do sertão, inspirou a fantasia de Schyrley Moura, rainha de bateria. Comandados por mestre Glaydson Santos, os 180 ritmistas da Jucutuquara sintetizavam a vida de viajante no Sambão do Povo, uma homenagem às canções de Gonzagão. Os componentes passaram fazendo festa com o samba forrozeado, defendido na passarela por Danilo Cézar como intérprete da escola.

Os passistas da escola tiveram inspiração num dos maiores clássicos do cancioneiro deste País, a Asa Branca. E não faltou samba e nem simpatia dos componentes ao longo do desfile.

Com muitas musas da comunidade entre as alas, a escola reverenciou a literatura de cordel, destacando o rouxinol, pássaro que seria o responsável por anunciar boas novas e abençoar o destino dos retirantes. Os ambulantes e vendedores que aparecem no caminho, além de Lampião e Maria Bonita também integraram o desfile.

A segunda alegoria, "O mercado", trazia vários produtos da cultura nordestina: artesanato, ervas, frutas, verduras, cereais, figuras de barro, de renda e de couro, um deleite para a comitiva dos migrantes.

Por aqui cheguei

O carnaval da Jucutuquara chegou ao Espírito Santo! E já caindo no forró e na folia do Norte do Estado. A ala dos compositores da escola homenageou os instrumentos musicais. Tradições da nossa cultura, como o Ticumbi e o Congo também estavam no desfile da agremiação.

Marcelinho Ramos e Marina Zanchetta, segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, encarnavam dois símbolos do Espírito Santo: o beija-flor e a orquídea, uma referência à exuberância da Mata Atlântica, vegetação predominante no Estado.

Para exaltar a culinária tipicamente capixaba, veio a ala "Sabores do mangue", puxando a Festa de São Pedro, tão tradicional da nossa cidade, celebrando os pescadores com a procissão marítima mais famosa do nosso estado, pela baía de Vitória.

No Espírito Santo fiz morada

O último setor do desfile da Jucutuquara foi uma exaltação ao Espírito Santo, terra dos capixabas e de quem mais chegou por aqui, tornando-se capixaba também. Na avenida, os viajantes instalados em sua nova terra encontraram as oportunidades de trabalho nas áreas de metalurgia, construção civil e portuária. O tripé que alavancou o crescimento do Estado durante o ciclo dos Grandes Projetos. Fantasias diferentes na mesma ala representaram as três áreas de trabalho.

Além dos migrantes do Nordeste, a escola homenageou ainda sulistas, sudestinos, nortistas e centro-oestinos com fantasias diferentes representando as cinco regiões brasileiras.

A velha guarda da agremiação, sempre com muito brio e garbosidade, passou pelo Sambão rendendo homenagem a todos os capixabas de coração. Para fazer parte do grupo dos baluartes e guardiões da escola, o componente tem de ter no mínimo 20 anos de participação efetiva na Jucutuquara e 50 anos de idade ou mais.

O último carro da escola, "Capixaba da Penha", encheu de orgulho o peito dos foliões. Com esculturas em gestos de agradecimento a todos os que aqui chegaram, enriquecendo nosso Estado, a Coruja, símbolo da escola, carregava o coração capixaba, e momentos que remetiam ao maior monumento do Espírito Santo, marca do nosso Estado no Brasil e no mundo, que é o Convento da Penha, através das velas da sala dos milagres e também de pequenos oratórios laterais que carregavam membros da velha guarda, o maior símbolo de amor por uma escola de samba.

A ala "Amigos da Nação" encerrou o desfile da escola, que está na briga para ser campeã do Carnaval de Vitória 2023.

Foto Divulgação
Jucutuquara
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Jucutuquara

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