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Assistidos mostram talentos escondidos nas ruas com ajuda do Centro-Pop

Publicada em 03/09/2019, às 17h06

Por Paula M. Bourguignon, com edição de Matheus Thebaldi


Guiomedce Paixao
Talentos Centro POP
Ana Cláudia pretende conquistar o certificado de artesã após aprender técnicas no Centro-Pop
Guiomedce Paixao
Talentos Centro POP
Elton aprendeu a tocar violão há cerca de um mês e já diz que a música é o seu grande refúgio

Artesanato, música e gastronomia. Os assistidos da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) revelam alguns talentos ocultos. Mesmo nas ruas,conseguem vencer e aprender a criar e reconquistar com a magia de suas mãos.

Algumas dessas vocações, como os vasos e carteiras feitos com materiais recicláveis de Ana Claúdia e o violão dos assistidos Elton e Joadson, foram reveladas após a chegada no Centro de Referência Especializado de Assistência Social para População de Rua (Centro-Pop) e na Escola da Vida, que são equipamentos da Semas.

"Quando cheguei no Centro-Pop, queria fazer algo que me crescesse como pessoa. Foi assim que encontrei meu ânimo. Nas oficinas, Jupiara aprendi algumas técnicas de como usar os materiais recicláveis, como caixa de leite, retalho de tecidos, casca de ovo e jornais, para transformar em arte, como vasos e carteiras. Isso para mim é uma grande motivação", disse Ana Claúdia Evangelista, de 40 anos.

Ana Cláudia já fez 13 vasos e 45 carteiras e pretende conquistar o certificado de artesã, além de ajudar outras pessoas a superar as ruas: "Pretendo ser uma artesã. Preciso apresentar três habilidades diferentes. Já faço vasos e carteiras e, agora, estou iniciando os tapetes com retalhos de tecido. De manhã, sempre faço um pouco aqui na sala. Gostaria muito de ajudar outras pessoas a sair das ruas. Acho que Deus não me colocou aqui nos equipamentos da Assistência Social por acaso".

Para falar de sua superação, ela dará uma palestra motivacional aos estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) na próxima quinta (5). No sábado (7), vai expor suas mercadorias na praça de Jardim da Penha.

Música

"A música é tudo na minha vida. Consigo encontrar nela os meus pensamentos e sonhos. Faz eu viajar fora desse mundo", disse Elton dos Santos Arruda, de 37 anos.

Há um mês, ele decidiu aprender a tocar violão: "Ainda preciso aprender a tocar as notas corretamente. Gosto muito de tocar, principalmente, canções românticas e sofrência".

"Aprendi violão há dois meses aqui no Centro-Pop. Fico mais leve quando estou tocando. Até consigo me esquecer dos meus problemas. Toco todo dia um pouco. Gosto muito de Música Popular Brasileira (MPB) e reggae", afirmou Joadson Silva, de 23 anos.

Motivação

Já o tempero e a comida brasileira continuam sendo a maior motivação diária na vida de Digão Maravilha, de 35 anos.

"Minha mãe sempre me incentivou a cozinhar. Antes de morrer, ela falava: 'A cozinha ainda vai dar um sustento na sua vida'. Cozinho com amor. Isto é minha maior motivação: saber que as pessoas gostam da minha comida. Aos poucos vou conquistando minhas coisas: já ganhei um fogão e uma geladeira. Por enquanto, estou guardando tudo na casa de uma amiga, até conseguir minha casa própria".

Além de um churrasco com feijão tropeiro e uma farofa de maracujá, Digão é fera em frutos do mar.

Vencer

"Realizamos um trabalho no Centro de Evangelização Santa Clara (Cescla), em Jardim da Penha, com os assistidos. Servimos um café na sexta e um almoço no sábado. Sempre que posso contribuo com um lanche ou uma refeição. Isso é uma forma de eu retribuir o pouco que tenho com essas pessoas que se encontram na mesma situação que eu estou. Isso é a minha maior motivação para vencer a situação de rua", explicou Digão.

Aptidões

"Diversas pessoas em situação de rua que frequentam o Centro-Pop são dotadas de talentos e aptidões. Os talentos se apresentam na música, dança, pintura, poesias, culinária e beleza, por exemplo. São pessoas com práticas e vivências que precisam ser valorizadas no percurso do atendimento no Centro- Pop. Potencializar o talento e a aptidão deve ser também nosso foco, pois contribui com a autoestima e com a construção de processos de saída das ruas", afirmou o coordenador do Centro-Pop, Mauro Motta.

Potencialidades

"As pessoas que estão nas ruas têm muitas potencialidades. O que ocorre é que, pelas adversidades e realidade dura que vivem nas ruas, elas acabam adormecidas. Acreditamos que o papel da Escola da Vida seja de despertar novamente nessas pessoas a vontade se sonhar de acreditar em si mesmas. A Escola da Vida olha mais essas pessoas pelo que elas têm de positivo, e menos pelas suas limitações", reforçou o gerente da Escola da Vida, Luiz Melo.

Guiomedce Paixao
Talentos Centro POP
"Fico mais leve quando estou tocando. Até consigo me esquecer dos meus problemas", afirma Joadson
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Digão Maravilha aprendeu a cozinhar com a mãe e até faz refeições para pessoas em situação de rua

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