O Abrigo para Pessoa em Situação de Rua (PSR), em Andorinhas, está celebrando a oportunidade da acolhida Ana Lilian, de 57 anos, fazer sua primeira vernissage. O evento será nesta quarta-feira (10), às 15 horas, no Espaço Cultural do TJES. A entrada é franca.
Ana Lilian está há oito meses no Abrigo, e já pintou dezenas de quadros que estão acomodados no quarto que ocupa e divide com outras três mulheres no Abrigo.
"Os quadros são minha salvação", afirmou ela. Lilia lembrou que o primeiro quadro feito nas ruas foi pintado com as mãos, sem o auxílio de pinceis. Ela também usou outros materiais, como batom, lápis de olho e outros itens comumente usados para maquiagem e, um desses chamou atenção de um turista alemão que passava férias na praia da Curva da Jurema.
"Foi minha primeira venda. Depois disso, cheguei a vender 15 a 20 quadros por dia nos semáforos ou na praia", revelou ela. Artista plástica autodidata, em situação de rua desde 2017, passa seus dias a pintar quadros dentro do Abrigo e os comercializa nos semáforos na região da Enseada do Suá e Curva da Jurema.
Com tanto talento e desenvoltura em se expressar, querer saber sobre a trajetória que desembarcou nas ruas de Vitória foi natural, e Lilian disse sem titubear: "a depressão e conflitos familiares. Perdi tudo, perdi casa, a família, os filhos. Sem nada fui parar nas ruas. Eu tinha uma situação financeira boa", falou ela.
Visivelmente emocionada, a artista plástica desabafou: "o tempo não volta. O importante é eles estarem junto comigo no meu recomeço. O importante é que estou aqui. As pessoas tem que aproveitar da minha presença agora", disse ela.
A artista plástica disse que os quadros expostos debaixo de um dos vãos da Terceira Ponte sempre chamaram atenção da população que circulava na região da Enseada do Suá e as vendas garantiam o sustento. "Nunca precisei fazer coisa errada para me alimentar, mas estar na rua é horrível. As pessoas que me rejeitam tem mais problemas do que eu", avalia Lilian.
Ela contou que o contraditório de estar nas ruas é que as pessoas a veem pintado debaixo da ponte, elas param para comprar seus quadros e, estando dentro do Abrigo a maioria das pessoas que doavam tintas, produtos para suas produções passam a achar que ela não precisam de mais nada.
A gerente de Proteção Social Especial de Alta Complexidade, Anacyrema Silva, explicou que o Abrigo PSR é um espaço seguro para acolhimento, sendo ofertado alimentação, higiene e acompanhamento psicossocial e a garantia de acesso a direitos e serviços essenciais, através de encaminhamentos para as demais políticas públicas.
Soraya Mannato, Secretária de Assistência Social de Vitória, reforçou o papel e a importância dos espaços de acolhimento institucional da cidade no apoio à superação da situação de rua.