Prefeitura de Vitória

Fortalecer vínculos, estreitar laços familiares e comunitários e resgatar a autoestima dos acompanhados e assistidos. Essas são algumas particularidades do projeto A Mesa, desenvolvido pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e Centro de Referência Especializado de Assistência Social para População de Rua (Centro-Pop).

Durante dois meses, os usuários das unidades do Creas de Bento Ferreira, Centro e Maruípe e os assistidos do Centro-Pop participaram de conversas e atividades com as equipes, formadas por assistentes sociais, oficineiros, psicólogos, pedagogos e terapeutas. Os encontros visam resgatar ou propor a criação de um espaço agradável de diálogo e convivência nas famílias.

Oficineira de artes do Creas Bento Ferreira, Carla Divino Silva Carneiro destacou a importância do projeto. "Nas oficinas, tive a oportunidade de ver do que os adolescentes gostavam: gravura, artesanato ou pintura. A proposta foi fazer uma mesa de lanche de conversa e trabalhar a concentração, a memória e a cromoterapia na pintura de mandalas. O resultado foi positivo". 

Oficineira de protagonismo juvenil, Sirlene Aparecida Martins disse que o projeto permitiu que os jovens refletissem sobre a vida deles. "A ideia inicial era que os adolescentes resgatassem os vínculos familiares. Com a dinâmica 'Quem vocês têm convidado para a sua vida?', eles refletiram que só entram na vida deles as pessoas que eles mesmos permitem. Os desenhos foram feitos remetendo ao passado deles, muito saudosismo. Fizemos a mesa da saudade e do resgate". 

O projeto é uma iniciativa da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), por meio da Gerência de Proteção Especial de Média Complexidade.

"A mesa sempre proporciona um momento de diálogo. Por conta do dia a dia corrido, está cada vez mais raro termos isso nos lares. Com esse projeto, conseguimos resgatar o convívio nas famílias e assistidos. Por exemplo: uma pessoa em situação de rua ficou três dias sem usar substâncias psicoativas para se apresentar bem para a família. Isso demostra respeito pela família e pelo projeto. Estamos resgatando esses laços familiares, a autoestima e os valores dos nossos assistidos", disse o secretário municipal de Assistência Social, Marcos Marinho Delmaestro. 

Sonho

A jovem Mikaela Vieira do Nascimento, de 18 anos, que participou do projeto no Creas de Bento Ferreira, sonha em um futuro melhor com a ajuda do Creas: "Aprendi a valorizar a minha família, a ter amigos e a desenhar. Quando não venho, sinto falta. No meu desenho, fiz uma escola e parquinho. Aos 15 anos tive de parar de estudar, mas sinto falta da minha infância. Tenho já um bebê, o Pedro, que faz eu acreditar na vida e ter força de viver".

Reflexão

Psicóloga do Creas de Maruípe, Ingrid Medeiros explicou como funciona o projeto A Mesa: "O Creas de Maruípe atende o público que sofre violações de direitos, e uma das possibilidades de intervenção é o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, proporcionando a convivência entre as famílias atendidas. Fizemos uma oficina de culinária com salada de fruta e, num segundo momento, o passeio no Parque da Vale. E o terceiro momento será agora no dia 10, no Projeto Tamar. Em cada momento, fizemos um momento reflexivo, sempre trazendo o conceito de convivência e união".

Terapeuta ocupacional do Creas de Maruípe, Mayra Amorim destacou a importância da oficina de culinária. "A ideia era que cada pessoa partilhasse o fazer e comer. Queremos que ela refletisse e resgatasse sobre isso em seus lares".

Materiais recicláveis

Também integrante do projeto, o Centro-Pop reuniu 61 assistidos e montou um jardim. "Na montagem do jardim suspenso, as oficinas envolveram música, pintura e costura, tendo a reciclagem e a sustentabilidade como temática principal. Os matérias recicláveis utilizados foram: caixa de leite, garrafa pet, latas e sombrinhas", disse o coordenador do Centro Pop, Mauro Motta.

Novo olhar

"A ideia que pensamos era reduzir o simbolismo de uma mesa em suas residências para que os munícipes tivessem momentos de cuidado um com o outro", disse o psicólogo Charlis Silva Oliveira.

Pedagoga do Creas, Janaína Nascimento Braga afirmou que os participantes do projeto colherão bons frutos em seu dia a dia. "A proposta do projeto foi ter a mesa como lugar de ressignificação, de conforto, de acolhida, de diálogo, de circulação da palavra, de acertos e ajustes. Então nosso foco é que essa família pare para conversar, mesmo que não tenha a mesa fixa e crie um ambiente com diálogo, a fim de resgatar as funções de pais e filhos dentro da família".

A coordenadora geral do Creas, Fabíola Calazans, também destacou a importância do projeto A Mesa. "O importante é que as famílias tenham um espaço para conversar sobre as coisas da vida. Às vezes, sentamos no chão ou no sofá, cada família tem seu sistema de funcionamento, e respeitamos isso, mas que esse espaço de diálogo seja um princípio trabalhado dentro das famílias, falando não só de serviço, mas do convívio humano e pessoal. Quando dialogamos sobre isso, somos mais fortalecidos. Eu cuido de uma pessoa que cuida de outra. E isso é bom para o serviço e para a família que está à sua frente e conta toda a sua história de vida".