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Roda de conversa entre famílias com filhos com deficiência
Publicada em 01/03/2024, às 17h50 | Atualizada em 01/03/2024, às 19h11
Por Rosa Blackman (rosa.adrianaeira$4h064+pref.vitoria.es.gov.br), com edição de SEGOV/SUB-COM
Uma noite de acolhimento, fortalecimento de vínculos comunitários e recheada de fortes emoções com os relatos sobre as angústias, as dificuldades no dia-a-dia e a luta constante pela garantia por direitos enquanto pais, mães e responsáveis por filhos(as) com deficiência e transtornos.
Estes temas foram o foco do encontro de famílias com filhos com deficiência, promovido nessa quinta-feira (29) pelo Centro de Convivência (CC) para crianças e adolescentes Sólon Borges em parceria com o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) Continental.
Tudo começou com o depoimento de Ysabela da Silva, de 23 anos, mãe de Davi Luiz, 7, que é autista. Ela fala comovida sobre o nascimento de seu filho e o impacto do recebimento do diagnóstico, passando pela dificuldade de apoio para lidar com questões simples do dia a dia de Davi.
"Eu achava que meu filho era perfeito. Não tinha referência. Era meu primeiro filho. E, ele é perfeito na maneira dele", disse Ysabela.
A jovem falou da dor de ouvir "que ele era assim por minha culpa, porque tive filho muito nova. A gente passa muita humilhação na busca de direitos. É muita dificuldade e constrangimento. Tive que romper, inclusive, com a forma como fui criada. Aprendi que pirraça e birra de criança se corrigia batendo. Sozinha, por desespero, descobri que o que acalmava o meu filho era um banho, a água caindo sobre o corpo. Só mais tarde descobri que a água tem poder sensorial", relatou ela.
Ysabela enfatizou que o encontro foi muito positivo por proporcionar que os responsáveis pudessem trocar experiências e apresentar caminhos para outros que já passaram e enfrentam situações semelhantes as delas. "Encontrar pessoas que entendem nosso sentimento é muito difícil e, aqui, encontrei. Isso é muito importante para nos fortalecer e fortalecer os vínculos com outras mães", disse.
Já Diego Lourenço, pai da Maria Júlia, 12, uma adolescente com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e Transtorno de Personalidade Limítrofe, e Giovana, 8, ambas participantes de atividades no CC Solón Borges, fez questão de estar presente no encontro junto com a esposa Vanessa Goes Wandermurem.
"Estar junto com outras pessoas que estão passando por situações semelhantes diminui o fardo", disse ele. Ao final do encontro, Diego falou que se sentiu acolhido, abraçado pelas outras famílias e pelos trabalhadores do local.
Na saída da roda de conversa, Rauliane Cristina de Oliveira Santos, mãe de Ruan e Nicolas, ambos com autismo, contou que o encontro foi ótimo para que as mães e pais pudessem fortalecer os vínculos e se apoiarem mutuamente na busca por direitos de seus filhos.
"A impressão que temos é que, até a classificação do nível de suporte do autista é, apenas, para negar direitos. Não é porque uma criança é nível um que não precisa de apoio, porque tem dias de crise que ela se comporta de forma mais agressiva que um nível três. A gente busca direito e, a primeira resposta quase sempre negativa. Temos que lutar e brigar todos os dias, brigar", disse Rauliane Cristina.
A coordenadora do CC Sólon Borges, Tatiane Galvão, contou que esse projeto dentro do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos de Vitória é inédito e pioneiro, cuja ideia nasceu com a observação da demanda do território Continental.
"Esse assunto vem sendo discutido nas redes socioassistencial e intersetorial local. A gente sentia a necessidade de criar um canal de comunicação e, acima de tudo de acolhimento, criar uma rede de apoio e troca de informações", comentou Tatiane.
A coordenadora enfatizou: "cada dia a gente atende mais crianças e adolescentes com transtorno mental e com alguma deficiência, e é aqui no Serviço de Convivência que elas devem estar. É aqui que elas interagem, é aqui que aprendem sobre cidadania. A gente tem uma responsabilidade em relação ao serviço que é o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Aqui, hoje, é isso que estamos promovendo com cada um(a) conhecendo a história do(a) outro(a)", explicou ela.
A psicóloga Bárbara Malvestio, que atua no Cras Continental, revela que o encontro é o espaço de falar das dificuldades dentro de um local de acolhimento e escuta qualificada. "Um espaço de compartilhar as dificuldades sem julgamentos. Aqui, é espaço de acolhimento", frisou ela.
O encontro contou também com a participação dos profissionais do CRAS e CC Sólon Borges: Mariana Soares, Sandra Regina Neves dos Santos, Cristiane Calott, Mônica Paulito, Shirley Ferri e Edson Vander.
Para a gerente de Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, Cristina Silva, a participação das pessoas com deficiência (PcD) no Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é crucial para promover a inclusão e garantir a equidade. "Ao reconhecer as habilidades e potenciais das PcDs, o SUAS fortalece a diversidade, proporcionando acesso a serviços e oportunidades que contribuem para uma sociedade mais justa e inclusiva", destacou ela,
A secretária de Assistência Social, Cintya Schulz, ressaltou o compromisso dos trabalhadores do Sistema Único da Assistência Social (Suas) de Vitória na busca e promoção de ações para garantia de direitos iguais para todos.
"Estamos trabalhando, incentivando e apoiando que todos os serviços realizem o atendimento e a inclusão comunitária nestes espaços da Assistência Social. A diversidade das pessoas atendidas nos Centros de Convivência é o cerne da convivência e logo do SCFV. Vitória tem tido várias iniciativas públicas voltadas a Habilitação e Reabilitação na perspectiva do SUAS", comentou.