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Estudantes cegos conferem arte produzida por alunos da rede pública de Vitória

Publicada em 05/10/2015, às 17h55

Por Carmem Tristão, com edição de Matheus Thebaldi


Divulgação Seme
Visita cegos à exposição Floresta Encantada
Estudantes do Instituto Braille visitaram a exposição "Floresta Encantada" e tocaram as obras

Ela participa de uma companhia de teatro, declama poesia, canta, toca violino, é viciada em leitura, fala inglês, espanhol, é entusiasta do Surrealismo, Cubismo, Expressionismo, Picasso, Miró, Dali e Tarsila do Amaral, é monitora na escola onde estuda e não perde uma aula jamais. Parece uma agenda cheia para qualquer estudante. Mas e se dissermos que a pessoa que descrevemos não enxerga?

Fernanda Oliveira, de 22 anos, cega desde o nascimento, prova que a falta de visão não representa limitação para quem tem sede de conhecimento e quer viver intensamente. Ela foi com um grupo de estudantes do Instituto Braille à Secretaria Municipal de Educação (Seme), na última sexta-feira (2), conferir a exposição "Floresta Encantada", com obras produzidas por alunos durante as aulas de Artes da professora Gisélle Góes, na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Ceciliano Abel de Almeida.

"Não é porque somos cegos que não gostamos de arte. Muito pelo contrário. Enquanto muitos veem a arte, nós podemos senti-la. Portanto, não enxergar não representa limitação para mim. Eu só preciso de relevo e descrições. E se disser que algo é impossível, eu me sinto desafiada", disse Fernanda.

Colega de sala dela, Alice Gerhardt Davi, de 23 anos, também gostou da experiência. "Poder tocar a obra é importante porque cego também aprecia a arte. Quando você pode tocar o quadro com as mãos, você entra na obra. E foi isso que essa professora nos proporcionou hoje: participar da arte", contou.

Descrição

Enquanto tocavam as telas, os alunos cegos ouviam dos alunos artistas a descrição dos materiais utilizados nas telas. "Para ela poder saber do que eram feitas as decorações do quadro, eu expliquei que a tela tem miçanga, concha, botão, pedraria, paetê, purpurina e outras coisas. Ela foi passando a mão na tela e eu explicava qual e como era o objeto no qual ela estava encostando. Eu gostei de ser olhos de uma pessoa. Foi muito bom me sentir útil", contou Mathias Oliveira dos Santos Silva Rosa.

Professoras

Divulgação Seme
Visita cegos à exposição Floresta Encantada
Alunos tiveram a oportunidade de conhecer o trabalho desenvolvido pela professora Gisélle Góes

"Atirei no que vi, acertei o que não vi. E foi lindo! Eu gosto de trabalhar com textura, com a possibilidade do toque. Mas ainda não havia percebido que a arte dos meus alunos é acessível também aos cegos. Eu não esperava toda essa receptividade. Mudou o meu olhar", disse a professora Gisélle.

Quem levou os alunos cegos do Instituto Braille à exposição “Floresta Encantada” foi a professora Miriam Micaela Ferreira. "Acompanho o trabalho da professora Gisélle há alguns anos. Quando soube que ela havia lançado mais uma exposição com artes produzidas pelos próprios alunos e que podem ser tocadas, não pensei duas vezes e convidei esse grupo para conferir. Posso afirmar que estão encantados", revelou.

Floresta Encantada

A exposição, que se encontra no hall da Seme apenas até o dia 14 de outubro, leva o título “Floresta Encantada”. Ela conta com 36 quadros produzidos pelos alunos do 6º e 7º anos da professora de Artes Gisélle Góes, na Emef Ceciliano Abel de Almeida, que fica em Itararé. O objetivo foi conscientizar os estudantes a respeito da importância de preservar a fauna e flora brasileiras.

Ela já usou a arte para inspirar a veia artística dos alunos, para ensinar o que é a valorização da mulher e para combater a violência contra o sexo feminino, e até já cruzou mares em três ocasiões, convidada por uma prefeitura de uma cidade holandesa para expor a produção dos alunos e palestrar sobre a inclusão social por meio da arte. 

"Os alunos trabalharam com imagens que retratavam a natureza de forma criativa, educativa e lúdica, levando-os a uma visão simples, porém bonita, das riquezas do meio ambiente e da importância da sua preservação, utilizando materiais recicláveis e reutilizáveis. Cada obra e produto de origem reciclada trouxeram à tona a reflexão e preocupação de realizarmos nossa parte no cuidado de um mundo ecologicamente mais preservado", disse.


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