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Paulista Silvia Regina Ferreira vira exemplo para quem deseja sair das ruas

Publicada em 28/02/2020, às 19h48 | Atualizada em 02/03/2020, às 16h58

Por Paula M. Bourguignon, com edição de Matheus Thebaldi


  • Redução das desigualdades

Guiomedce Paixao
missionária da Cristolândia
Silvia contou sua história de vida e como conseguiu sair da cracolândia paulista para hoje incentivar outras pessoas a deixar as ruas

Aos 62 anos, a paulista Silvia Regina Ferreira escreveu uma nova página na sua vida. Morou nas ruas e na cracolândia de São Paulo, mas, com a ajuda do projeto Missões, teve a oportunidade de reconstruir sua família e abraçou a causa de tirar as pessoas da situação de rua. Atualmente, ela estuda Teologia e mora no Rio de Janeiro.

Nesta sexta-feira (28), ela esteve em Vitória falando de sua trajetória, no auditório da Casa do Cidadão, em Itararé, e foi aplaudida de pé pelas equipes da Secretaria de Assistência Social (Semas).

"O objetivo foi compartilhar com a gente o seu olhar de quem está do outro lado. Sei que, no dia a dia, vocês já vivenciam isso. Escutam muitas histórias, mas a Silvia também tem uma história muito especial, um exemplo de superação. Temos muitos casos de superação graças ao trabalho de cada um", disse a secretária municipal de Assistência Social, Iohana Kroehling.

"Nas ruas, as pessoas nos ajudam a entender que não somos nada. E era assim que eu me sentia. Até quando recebi um abraço naquelas condições em que eu estava. Foi muito diferente, por ser muito carinhoso. Todo dia aquela missionária (de nome Fernanda) ia me ver e queria ser minha amiga. A insistência de vocês nas abordagens não passa despercebida. Quando vemos a verdade de vocês, começamos a dar crédito", disse Silvia.

Legado

Aos nove anos, Silvia conheceu o pai biológico, que era do crime. Aos 17 anos, descobriu que estava grávida. "Até os nove anos, me recordo que era uma criança feliz e contente. Morava com minha mãe em uma casa de família de posses em Jardim Europa, em São Paulo. Lá minha mãe conheceu meu padastro. Ele bebia e batia na minha mãe. Ela criou minha filha e meu irmão. Nós somos o legado e a raiz dela".

Ruas

"Aos nove anos, tive que virar a página da minha vida e recomeçar. Passei a ser uma delinquente mirim. Tudo isso tive que aprender. É muito difícil você sair da coisa boa e passar a ser a coisa ruim. Fui me tornando uma adulta, mas com raiva. Eu tinha muitas vontades. Hoje temos muitas crianças que nascem nas ruas, que não sabem o que é serem amadas", destacou Silvia.

Prisão

Guiomedce Paixao
missionária da Cristolândia
Silvia fez palestra para servidores das equipes da Semas

Antes de completar 18 anos, Silvia foi presa por conta da vida no crime, sendo detenta por 25 anos. Na prisão, aprendeu uma profissão: ser costureira. Após cumprir sentença, foi morar numa fazenda em Mato Grosso. 

"Eu não queria mais me envolver com a polícia de jeito nenhum. Mas estava ficando sem dinheiro e decidi ir para essa fazenda em Mato Grosso. Achei que iria trabalhar como cozinheira ou costureira. Ao chegar lá, descobri que era uma refinaria. Eu não sabia o que era o crack porque eu fiquei 25 anos presa. Assim eu vi e conheci as drogas. Estávamos em um galpão fechado. Não tinha como me manter lá financeiramente".

Riscos

"Silvia passou alguns apertos enquanto morava na rua. Teve um dia que ela ganhou uma pedrada que quase perdeu sua vida. Teve um dia que caiu uma marquise onde estava dormindo. Levou um tiro. São esses os riscos que a pessoa que está na rua passa. Foi quando fizemos uma ação missionária na cracolândia e nos aproximamos", falou a missionária Fabíola Molulo Tavares.

"Fiquei mais 14 anos na cracolândia. Não deixava ninguém chegar perto de mim. Por isso, o apelido de bruxa. Eu era muito brava".

Perdão

"Quando estava com quatro meses de tratamento, em 2017, meu irmão foi me reencontrar no projeto com meus dois netos na Casa Rosa, em São Paulo. Era um sonho ainda ser realizado falar com a minha filha. Recentemente, no Rio de Janeiro, no Dia das Mães, bati na porta dela. Devia a ela pedir esse perdão por ela ter nascido em uma época muito difícil da minha vida. Ela me perdoou e nos abraçamos. No Natal, ela me convidou para passar em família. Foi o melhor e maior Natal da minha vida", contou Silvia.

"Hoje eu ainda tenho um sonho de continuar servindo a Deus e a esse povo. De alguma maneira, tenho a obrigação de dizer para as pessoas que não têm onde morar que nós existimos. Vale a pena sonhar. Porque o sonho nos dá força", finalizou Silvia.


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