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Moradora supera desafios morando nas ruas e ganha o aluguel provisório

Publicada em 12/04/2014, às 23h36

Por SEGOV/SUB-COM (secomeira$4h064+pref.vitoria.es.gov.br), com edição de SEGOV/SUB-COM

Com a colaboração de Rosa Blackman


Yuri Barichivich
Pauta - Dona Carmem
Dona Carmem não esconde a felicidade ao deixar o Alojamento Provisório para começar uma nova vida
Yuri Barichivich
Pauta - Dona Carmem
Acompanhada do neto Henrique, a munícipe lembrou os problemas que encarou antes de receber o Aluguel Provisório

Agradecimento, felicidade, esperança, segurança e certeza. Em uma mistura de sentimentos, a costureira Carmem Lúcia de Souza Rosa, de 54 anos, deixou na tarde deste sábado (12) o Alojamento Provisório de Famílias, em São Cristóvão, espaço mantido pela Secretaria Municipal de Habitação (Sehab), para viver numa casa alugada em Itararé, após ser contemplada com o benefício do aluguel provisório, que pode chegar a um salário mínimo (R$ 724) e é transitório, até que a munícipe seja incluída na política habitacional do município.

Essa história seria apenas mais uma se Carmem não tivesse passado 15 anos de sua vida perambulando pelas ruas da cidade e outros dois anos morando em um barraco improvisado nas instalações do antigo e desativado aquaviário, na avenida Beira-Mar.

Nos últimos 12 meses, o Alojamento Provisório foi o seu endereço, sua referência, onde encontrou apoio para dar uma virada e reconstruir sua história de vida.

Ruas

A separação do marido trouxe a desilusão, desmontou seus sonhos e provocou depressão, que a levou para as ruas. Sem dinheiro para cobrir as despesas da casa, construída numa região nobre da cidade, saiu do local deixando para trás uma filha de 17 anos e outra de apenas quatro anos.

Nas ruas, passou dias deitada nas calçadas e debaixo de marquises, onde se deixou levar pelo efeito das bebidas alcoólicas e das drogas. Uma tarde de domingo de 2011 está gravada em sua cabeça, data que sua filha caçula Jéssica, 20), prefere não comentar.

Longe da mãe, Jéssica confessa com a voz embargada. "Esse dia e essa cena não saem de minha cabeça. Não consigo apagar. Lembro de tudo, de todos os detalhes", fala baixinho, com lágrimas nos olhos.

Desse período em diante, Carmem se afastava mais e mais do convívio familiar, até se entregar de vez ao mundo das ruas, tornando-se uma pessoa em situação de rua e fixando-se num barraco montado no aquaviário. "Acompanhava minhas filhas crescendo, meus netos nascendo de longe. Me escondia atrás de carros e árvores para ver minhas filhas trabalhando", contou.

Mas Carmem revelou que a dor maior era quando caía a noite. "Nesse momento, só lembrava de meu neto Henrique - hoje com 11 anos -, que só dormia apertando minha mão entre os dedos".

Foi no aquaviário que, após várias tentativas das equipes da Abordagem de Rua da Secretaria de Assistência Social (Semas) e do Consultório de Rua, finalmente, ela aceitou sair das ruas e ir morar no Alojamento Provisório, em São Cristóvão.

Mudança

"Estou mudando para melhor. Estou colocando as coisas em ordem e entrando nos eixos", disse. Para Carmem, os 17 anos em que esteve perambulando pelas ruas da capital foram tempos em que esteve doente e sem fé, mas também como testemunho a ser dado às filhas, aos netos e a todas as pessoas que passam por alguma dificuldade e pensam negativamente.

Ela comentou que montar um barraco no aquaviário foi a forma encontrada para chamar atenção das autoridades para o seu problema. "Lá, não tinha como não me enxergarem. Era um grito de socorro. Queria unir minha família de novo, porque família é igual a uma coluna, quando se quebra, perde-se tudo. Fortalecendo-a, volta tudo de novo".

Do aquaviário, onde ficou por dois anos, para o Alojamento Provisório, foram meses de conversas com as equipes da Prefeitura. Carmem admite que a resistência de sair das ruas e ir para o alojamento era por desconhecimento do trabalho realizado pelos profissionais que atuam no espaço. "Não queria ir para lá porque achava que era um lugar para pessoas doidas, caídas, sem jeito. Mas quando cheguei aqui amei. No começo, foi difícil, porque tem regras, mas precisamos ter horários, compromissos e responsabilidades. Aprendemos também isso aqui. Aqui, começou a minha mudança. Encontrei o caminho da vitória. Encontrei conforto, carinho, respeito, apoio", ressaltou.

Despedida

Ao se despedir da educadora social Raquel Bispo dos Santos, que acompanhava emocionada a mudança, Carmem disse: "Estou saindo daqui para a vitória do jeito que Deus gosta e que a sociedade também quer. Estou muito feliz, porque saio junto com minha família. Encontrei aqui um grupo de anjos enviados por Deus para me dar essa vitória".

Ajudaram na mudança a filha caçula, Jéssica, e o neto Henrique, de 11 anos. Os outros a aguardavam na nova casa.

Yuri Barichivich
Pauta - Dona Carmem
Ao lado do neto e da família, dona Carmem diz que o passado serviu de lição e exemplo para as pessoas
Yuri Barichivich
Pauta - Dona Carmem
Carro ajudou a levar os pertences de dona Carmem para o novo lar

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