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Bruno Mangueira grava segundo álbum com apoio da Rubem Braga e lança CD nos EUA

Publicada em 20/12/2013, às 10h19 | Atualizada em 10/01/2014, às 12h25

Por Bartolomeu de Freitas, com edição de Matheus Thebaldi


Dani Gurgel/Da Pá Virada
Bruno Mangueira
O guitarrista capixaba Bruno Mangueira já lançou o segundo álbum e tem o seu talento reconhecido no Brasil e mundo afora

O guitarrista capixaba Bruno Mangueira lançará, em fevereiro próximo, o seu CD autoral, "Camburi", no 2014 Jazz Fest - Festival de Jazz da Universidade de Louisville (EUA). Nesse evento, também se apresentarão celebridades do jazz americano, como o trompetista Sean Jones e o contrabaixista Christian McBride.

Com apresentação do consagrado Toninho Horta e participações de expressões da MPB, como Leila Pinheiro, o CD "Camburi" - segundo da carreira de Bruno - foi contemplado pela Lei Rubem Braga, instrumento de incentivo à produção cultural da Secretaria Municipal de Cultura (Semc), e será lançado em Vitória no primeiro semestre de 2014.

Bruno Mangueira nasceu em Vitória e aqui iniciou seus estudos de música. Lecionou na Escola de Música do Estado de São Paulo e hoje é professor de Guitarra da Universidade de Brasília (UnB). Nessa entrevista, em que Bruno destaca a importância da Lei Rubem Braga para o artista, conheça um pouco a história desse músico capixaba cujo talento já é reconhecido além das fronteiras do Brasil, como nos Estados Unidos, Japão e na Europa.

Bruno, você é capixaba de onde? Estudou música aqui? Qual sua formação? Vive só da música?
Bruno Mangueira - Eu nasci em Vitória em 1978. Morei na cidade até os 19 anos, quando então decidi me mudar para fazer graduação em Música Popular na Unicamp. Mas antes disso estudei música em Vitória, sim. Meu contato inicial com o violão foi através do meu pai, aos quatro anos de idade. Um pouco mais tarde, fiz aulas particulares com o professor Elias Borges – tanto ele quanto meu pai foram alunos do Maurício de Oliveira. Mas passei mesmo a me dedicar à música com mais seriedade ao ingressar na Escola Técnica Federal do Espírito Santo (atual Ifes), onde estudei com o maestro Célio Paula da Costa, e depois passei a integrar como guitarrista a Pop & Jazz Orquestra ETFES, que era a big band da instituição. Foi com o maestro Célio também que comecei a tocar profissionalmente em shows e eventos com a Orquestra Victoria e outros grupos que ele liderava. Desde então, sempre trabalhei somente com música: primeiramente como instrumentista e, com o passar dos anos, o meu campo de atuação foi se ampliando para o arranjo, a produção e as aulas.

O CD tem o patrocínio da Prefeitura de Vitória, por meio da Lei Rubem Braga. Como você avalia esse instrumento de incentivo à produção cultural?
Bruno Mangueira: Na contramão da cultura de massas, que só faz afundar o nível das coisas no Brasil, as leis de incentivo têm sido uma forma de resistência e garantia de qualidade na área artística. Esse tipo de mecanismo impulsiona a carreira de muita gente boa, que dificilmente teria condições de apresentar sua produção em nível profissional de outra maneira. Por exemplo, recentemente fiz os arranjos e direção do CD "Andréa Ramos canta Chico Lessa", que é um registro importantíssimo para a cultura do Espírito Santo, e só pôde ser realizado de maneira adequada devido ao apoio que teve do Governo Federal, através da Funarte. E, com isso, a música popular de qualidade, que é provavelmente o principal cartão-postal de nosso país, agradece.

Fico muito feliz que a cidade de Vitória tenha apostado no incentivo cultural logo no início desse processo no Brasil, e que até hoje mantenha a Lei Rubem Braga. Espero que assim continue e que a lei seja cada vez mais aprimorada, para que possamos deixar para as próximas gerações algo que as permitam crescer como seres humanos e que lhes deem orgulho. Aproveito para deixar aqui registrado o meu agradecimento às empresas apoiadoras do CD “Camburi”: Grupo CJF, Viação Grande Vitória e ArcelorMittal.

Fale um pouco de sua carreira musical e sua relação com o renomado Toninho Horta, que lhe dedica uma a apresentação do CD.
Bruno Mangueira: Bom, eu dividiria a minha carreira em cinco momentos. Primeiro, o tempo em Vitória, entre 1996 e 1997, quando, além do que já mencionei, também acompanhei alguns cantores e participei de projetos instrumentais.

Depois veio a fase em Campinas (SP), que durou vários anos, e foi onde pude me aprimorar bastante. Além de passar a me dedicar integralmente à música, por conta da universidade, lá eu também trabalhei muito com música instrumental e isso me ajudou a desenvolver algo que vinha buscando, que era o meu lado solista. Dessa época, eu destacaria dois grupos que integrei: a Big Band Canavial, onde atuei como guitarrista e arranjador e que recebeu este nome por causa de uma composição minha (que depois veio a ser gravada no meu primeiro CD); e o trio Azeviche, com o contrabaixista Marcos Souza, o percussionista Magrão e eu no violão. Com este grupo gravamos o CD “Azeviche”, em 2007.

Ao longo do tempo em Campinas, naturalmente foram surgindo trabalhos na capital São Paulo ou com músicos de lá, pois a distância de apenas 100 quilômetros facilitava esse contato. Com isso, tive a oportunidade de tocar com grandes músicos, como o Nelson Ayres e o Nailor Proveta. Morei lá alguns meses em 2006, mas a mudança para esta terceira fase veio mesmo em 2009, quando fui selecionado como professor da Escola de Música do Estado de São Paulo – Tom Jobim (Emesp). E essa transição ocorreu durante a finalização do meu primeiro CD, “Bruno Mangueira”, que foi uma produção trabalhosa, com orquestra, big band, ao todo 31 músicos. O disco saiu ainda naquele ano e foi lançado em janeiro de 2010 no programa Instrumental Sesc Brasil, do canal SescTV, gravado ao vivo no Sesc Avenida Paulista - este show está disponível completo na internet, tanto no canal do Sesc no YouTube quanto no meu endereço www.youtube.com/brunomangueira. O CD teve uma boa repercussão, e acabou vendendo em diversas cidades do país e também no Japão e Europa.

Depois disso, veio então a quarta fase, em 2011, quando eu morei nos Estados Unidos. Eu já havia tocado lá alguns anos antes, mas desta vez tive a oportunidade de conhecer melhor a cultura do jazz, que era algo que eu sempre quis, convivendo com músicos excelentes. E ao mesmo tempo pude mostrar o meu trabalho, me apresentando com orquestra sinfônica e big band na Universidade de Cincinnati, e também lançando o meu CD em Nova Yorque, entre outras coisas. Foi uma fase muito boa, onde conheci músicos de vários países, e que me abriu outras possibilidades num cenário internacional.

Depois que retornei ao Brasil, além de ter feito shows e workshops em diferentes partes do país, fui chamado para ser professor de guitarra na Universidade de Brasília (UnB), que é onde leciono atualmente. Ali também dirigi, nos últimos dois anos, a Orquestra Popular Candanga, que é a big band do Departamento de Música.

E, coincidentemente, foi nesta mesma cidade onde conheci o Toninho Horta, em 1997, como aluno do Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília (CIVEBRA). Nos tornamos amigos e o Toninho sempre procurou me incentivar, abrindo espaço para uma “canja” nos shows dele em diversas situações. Mais tarde, participou como convidado do meu primeiro CD, numa música que compus em sua homenagem, “Samba pro Toninho”. Essa nós gravamos em duo e é a minha faixa mais vendida no iTunes, além de ser o meu vídeo mais visto no YouTube até agora.

Qual o seu sentimento em ver “Camburi”, essa obra autoral pronta?
Bruno Mangueira: “Camburi” é o meu segundo álbum, e estou muito feliz com o resultado. Neste CD, resolvi priorizar um pouco mais o meu lado instrumentista, deixando bastante espaço para a guitarra em praticamente todas as faixas. Para isso, convidei alguns músicos pelos quais tenho a maior admiração e que são especialistas na arte do acompanhamento: Fabio Torres (piano), Bruno Cardozo (teclados), Sidiel Vieira (baixo acústico), Thiago Alves (baixo elétrico) e Celso de Almeida (bateria). Fizemos as bases em São Paulo em dois dias e ficou com um balanço muito legal – digo “fizemos”, pois também participei gravando violão, afinal não iria perder a oportunidade de me divertir também... Na mesma semana fui ao Rio para registrar a participação de dois músicos muito especiais, que estão presentes em boa parte do que há de melhor na discografia do nosso país: o Gilson Peranzzetta, que gravou acordeom em duas faixas, e o Robertinho Silva, que colocou percussão em metade do disco.

E uma coisa diferenciada foi a participação de três grandes intérpretes convidados. Na faixa-título tem o Filó Machado, que, além de um super compositor, é ainda um excelente cantor, e a voz e o estilo dele nesta música se encaixaram perfeitamente. Teve também a Beth Bruno, que é uma cantora carioca de vasta experiência com diversos artistas brasileiros, e que atualmente reside ao norte de Nova Iorque, que foi onde gravamos sua participação no bolero “Cenas do último capítulo”. Essas duas canções são em parceria com o letrista Eduardo Klébis.

Por fim, algo que me deixou especialmente emocionado foi a participação da Leila Pinheiro, que é uma das principais intérpretes da música popular brasileira e uma grande referência para mim. Ela gravou a música “Novo amor”, onde também escrevi a letra, e ainda tive a cara-de-pau de cantar junto com a Leila! (risos). Bom, acho que nem preciso dizer que o sentimento de ver esse trabalho pronto, com um time desse, só pode ser de plena realização. E para isso também contribuíram os excelentes profissionais envolvidos nos bastidores, tanto na parte de áudio quanto na arte do CD.

Porque resolveu dar o nome de Camburi ao CD? Foi só por conta da música Camburi ou há algo mais? … E a participação da Leila...
Bruno Mangueira: O nome do CD está ligado à música, claro, mas você está certo ao questionar sobre um significado maior. Eu passei os primeiros 19 anos da minha vida morando bem próximo à praia de Camburi, e até hoje minha mãe mora nessa mesma casa, então foi daí que veio a inspiração para compor a música, no ano 2000. Ela já nasceu com esse nome, mesmo sendo instrumental, depois pedi ao Eduardo Klébis que fizesse a letra, e em 2001 fomos premiados com “Camburi” em 2º lugar no Festival de MPB de Tatuí (SP), um dos mais importantes do país.

Três anos mais tarde, voltamos a concorrer em Tatuí, desta vez com a música “Porta-bandeira”, também interpretada pelo cantor André de Souza. O André ganhou o prêmio de melhor cantor do festival, e a música ficou classificada entre as 10 finalistas. Neste ano, estava no júri do festival a Leila Pinheiro, que alguns meses depois me ligou, dizendo que estava selecionando músicas para o seu novo CD e, como havia gostado muito da minha, pediu então que eu mandasse outras para que ela pudesse conhecer. No fim das contas, ela acabou gravando coisas de compositores mais conhecidos, Chico Buarque, Ivan Lins, João Donato... Mesmo assim mantivemos contato, e ela sempre foi muito atenciosa comigo, ouvindo meus trabalhos e fazendo elogios pontuais que poucos músicos saberiam fazer.

Os anos se passaram e em 2006 compus a música “Novo amor”, já imaginando como seria com a Leila cantando. Ela gostou muito, e finalmente surgiu então a oportunidade de convidá-la para cantar no meu disco.

Quando será o lançamento do CD aqui em Vitória? Já está à venda?
Bruno Mangueira: O show de lançamento em Vitória deve acontecer no primeiro semestre de 2014. Sim, tanto o “Camburi” (2013) quanto o “Bruno Mangueira” (2009) estão à venda na Vox Music (Rua José Teixeira, 271 – Praia do Canto, tel. 27 3026-8083) . Quem quiser também pode solicitar pelo email contato@brunomangueira.com ou pelo site www.brunomangueira.com.


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