Prefeitura de Vitória

Pelas contas da Organização das Nações Unidas (ONU), existem atualmente 193 países no mundo. Difícil memorizar todos eles e ainda saber quais são as suas capitais. Não para o pequeno Igor Pinheiro, de apenas 7 anos. Aluno do 2º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Álvaro de Castro Mattos, em Jardim da Penha - onde participa do projeto "Ateliê Escola Porão a Sonhar", voltado para alunos com altas habilidades -, ele desafia a Geografia e tem as respostas na ponta da língua. 

"Sei de todos os países, menos de Ruanda e Burundi", contou o estudante, que, logo em seguida, interrompeu a entrevista: "Já lembrei. As capitais são Kigali e Bujumbura (respectivamente)". 

O talento vai além. Ele também conhece as bandeiras dos países e as capitais dos estados brasileiros. A inteligência foi descoberta por um programa de televisão da TV Record, em São Paulo (SP), e Igor foi convidado para participar de um desafio ao vivo. Se ele acertasse todas as respostas - identificar os países no mapa, soletrar os nomes e falar as capitais -, ganharia uma viagem para o Japão, país que sonhava em conhecer.

Ao ser questionado se foi complicado, Igor não titubeou: "Tirei de letra, pois sabia tudo. Não fiquei com vergonha. Pensava que só ia identificar as bandeiras e capitais e não sabia da viagem. Gostei muito".

Ansioso, ele não vê a hora de embarcar para o país oriental. "Lá é legal. Gosto da cultura de lá e amo comida japonesa, como uramaki. Quero conhecer qualquer coisa lá", relatou Igor, que sonha ser jogador de futebol e pensa cursar a faculdade de Língua Portuguesa: "Gosto de jogar de atacante e goleiro".  

Talento

Tudo começou aos 2 anos de idade, quando despertou a sua curiosidade pelo mapa-múndi. "Ficava vendo os países, os times de futebol dos lugares e guardava os nomes".

A mãe, Veruska Pinheiro, lembrou que descobriu o talento de Igor quando ele logo se interessou por um mapa em um hotel durante uma viagem. "Ele ficava estudando os mapas. Quando íamos a algum lugar, ele sabia até as ruas. Em São Paulo, por exemplo, ele sabia até quais estações de metrô tínhamos que pegar para irmos à casa de uma amiga. Se não fosse ele, iríamos errar o endereço. Foi assim em Roma (Itália) também. Com isso, minha mãe o presenteou com um Globo aos 3 anos".

Segundo ela, foi a própria Secretaria Municipal de Educação (Seme) que a alertou que o pequeno tinha altas habilidades. "Algumas mães também já haviam falado. Pensei que podia ser algo passageiro e nunca me deslumbrei. Na escola, enquanto os amiguinhos faziam desenhos, ele já sabia o alfabeto". 

Ela não esconde o orgulho que tem do filho: "É uma criança que traz um desafio a mais e quer ir além. Busco pesquisar sempre, pois ele, às vezes, tem mais conhecimento que muito adulto. É preciso ter um olhar diferenciado para essas crianças com altas habilidades, pois elas precisam se sentir motivadas e inseridas", afirmou Veruska, que pretende aproveitar o prêmio e levá-lo às Olimpíadas de Tóquio, em 2020.

Mas é bom ela se preparar futuramente, pois Igor fala que ainda deseja conhecer Libéria, Inglaterra, Islândia e Kosovo. 

Porão

Diante do quadro, Igor passou a participar do projeto "Ateliê Escola Porão a Sonhar", na Emef Álvaro de Castro Mattos. O professor de Línguas e Altas Habilidades Israel Scardua explica que os alunos com essas características são identificados pelos professores em sala de aula. "Igor veio com indicação de talento para o projeto de Geografia. Ele lê materiais em espanhol e italiano e sabe a pronúncia das línguas, pois entende a linguagem. Ele lê textos em Português até melhor que alunos de séries mais avançadas".

Uma vez por semana, durante duas horas, Israel acompanha o jovem talento. "É um desafio, pois preciso pesquisar ainda mais para fomentar e instigar as pesquisas dele. Acabo aprendendo mais de Geografia com ele. Digo que aprendo muito mais do que ensino. São alunos que fazem os professores refletirem mais sobre as suas práticas". 

Ele é só elogios ao aluno: "Ele não me surpreende, pois ele realmente tem um talento muito acima. Ele fala que quer ser jogador de futebol, assim como outros alunos, mas pode ser que quando estiver mais maduro tenha interesse por outras áreas". 

Atividades

Imagine um cômodo sem vida dentro de uma escola que, no máximo, serviria como um depósito de materiais inservíveis. Assim seria o porão da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Álvaro de Castro Mattos, em Jardim da Penha. Mas a equipe da unidade tinha outros planos para o local. No lugar de um depósito frio e cinza, uma sala climatizada, colorida e decorada especialmente para receber alunos com altas habilidades/superdotação (AH/SD) e talentos fora do habitual.

Assim nasceu o Ateliê Escola Porão a Sonhar, que atende alunos de 6 a 14 anos de escolas da rede municipal. Lá, os talentos nas áreas de linguagem, ciências, artes, pesquisa, teatro, jogos, desafios matemáticos, entre outras habilidades, sobressaem.

Quando um aluno com altas habilidades ou superdotação é percebido, o educador faz, junto à equipe pedagógica , um relatório de identificação, apontando as características dos alunos em áreas de conhecimento em que se destacam, no envolvimento com a tarefa, na curiosidade, autonomia, bem como características pessoais e emotivas.

O aluno é atendido uma vez por semana, no contraturno escolar, por cerca de 2h30, desenvolvendo os projetos que escrevem com o auxílio do professor especializado.