Notícias
Pequenos dão lição de combate ao racismo em Cmei de Joana D´Arc
Publicada em 19/10/2018, às 12h44
Por Renata Moreira, com edição de Matheus Thebaldi
Trabalhar a igualdade racial em sala de aula. Esse é o objetivo do projeto "Penso, logo respeito", desenvolvido junto aos pequenos do Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Doutor Thomaz Tommasi, em Joana D’Arc.
O projeto surgiu depois que as professoras Lívia Costa Araújo e Rosileia Soares, em parceria com a pedagoga e a diretora da unidade, Sidneia Pasolini e Lucien Lopes, respectivamente, decidiram apresentar em sala de aula algumas fotografias que simbolizassem o continente africano, explicando suas formação e proximidade com o Brasil. Mas a reação dos pequenos chamou a atenção das professoras.
"Percebemos a reação de nossos alunos quando os levamos ao laboratório de informática para pesquisar sobre as crianças africanas. Quando abrimos fotos de princesas e príncipes negros, as crianças não aceitavam muito bem por serem negros. Eles tinham uma visão dos desenhos da Disney, com personagens brancos, louros, de cabelo liso e olhos claros", explicou a professora Lívia Costa Araújo.
"A princípio, não tínhamos percebido a profundidade e o enraizamento de uma cultura eurocêntrica nas crianças. Nas falas e nas reações deles, percebemos a real necessidade de trabalhar a autoestima e a valorização da beleza e da cultura do povo negro, instigando-os para a reflexão e a prática do respeito à diversidade racial", complementou Sidneia Pasolini.
Família
Ao identificar a necessidade de trabalhar o tema com as crianças, as professoras prepararam uma reunião com os responsáveis, apresentaram o projeto e relataram os episódios de racismo ocorridos na turma.
"Aplicamos uns questionários aos pais para saber se conheciam a cultura africana, se havia negros na família e o que achavam de trabalhar o assunto com as crianças. Mas os pais pareciam não conhecer a cultura negra e perguntaram por que estávamos trabalhando sobre a África e não o Brasil, como se não houvesse sentido ou qualquer tipo de ligação", comentou a professora Rosileia Soares.
Envolvimento
A cultura afro foi tema de atividades em sala de aula e em casa, com a proposta de quebrar barreiras com os familiares.
Os pequenos participaram de aulas de capoeira e desfiles usando turbantes e acessórios como príncipes e princesas africanos. Além disso, também pintaram quadros e ajudaram a decorar a escola com elementos que remetem ao tema.
"Estamos colhendo os frutos desse trabalho. As meninas estão gostando do cabelo solto. Se hoje a gente pergunta quem é negro na sala, eles já levantam as mãos. Estão mais conscientes da sua origem e sua identidade", comentou Lívia.
Ampliação do projeto
Lívia destacou, ainda, que trabalhará a ampliação do projeto para os próximos anos. "Queremos trabalhar com a temática, levando para as crianças textos e brincadeiras, focar na beleza negra, no combate ao racismo e nas informações mais aprofundadas com as famílias de maneira permanente. Queremos que todos da comunidade escolar se envolvam de forma efetiva, tendo formações com a Ceafro para os funcionários, reuniões de pais com bate-papo sobre a temática. Sabemos que o preconceito e o racismo se combatem com informações e educação, e é nesse viés que iremos trabalhar".