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Casal de assistidos supera obstáculos nas ruas e realiza sonho da moradia

Publicada em 17/07/2019, às 15h09

Por Paula M. Bourguignon, com edição de Matheus Thebaldi


Paula M. Bourguignon
Eloisa e Kleber
Eloisa e Kleber superaram a situação de rua e agora serão beneficiados pelo aluguel social após serem atendidos pela rede socioassistencial de Vitória

Olhar de admiração mútua, braços dados, confiança e respeito um pelo outro. Mesmo com as adversidades da vida, o casal de assistidos Eloisa Alves Cassemiro, de 34 anos, e Kleber Mendes, 57, vence todos os dias e não tira o sorriso dos rostos.

Juntos há 1 ano e 3 meses, eles se conheceram no Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Centro-Pop) e estão temporariamente na hospedagem noturna. Em breve, vão morar juntos após serem beneficiados pelo aluguel social do projeto "Moradias Alternativas". Ela, inclusive, já faz curso no Ifes.

"Meu lema é 'Eu quero, eu posso, eu consigo'. É assim que estamos vencendo todos os dias", disse Eloisa. "Todo dia temos que 'matar um leão'. É uma vitória a cada dia", complementou Kleber.

Aluguel social e trabalho

"O nosso aluguel social saiu. Iremos morar juntos. Pensamos em ser em Jucutuquara, por ser mais perto do Centro de Atenção Psicossial (Caps) e do Ifes. Isso é uma conquista de nós dois: podermos sair das ruas. Teremos nossa casa. Quero tirar minha carteira de motorista e voltar a trabalhar. Pode ser como camareira, faxineira ou cuidadora de idosas. Já fiz curso de informática e administração também. Só preciso que Deus abra as portas e me dê um serviço", avisa Eloisa.

"Gostaria de voltar a trabalhar como porteiro. Já fui muito ajudante de pedreiro, mas hoje eu não gostaria. Trabalhei 25 anos no Cais do Porto. Assim eu vejo nosso futuro, na nossa casa, com paz e meu amor do meu lado, com um trabalho e com minha aposentadoria. Já temos a doação de panelas e utensílios domésticos para nossa casa. Aceitamos qualquer tipo de doação. Já estamos com planos de trabalhar na praia no verão, vendendo bebidas, ou quem sabe vendendo frutas e legumes nos bairros. Mais para frente vamos comprar nosso carro para atender à nossa necessidade", ressalta Kleber.

Origem

Eloisa é de Passos, sul de Minas Gerais, e mãe de cinco filhos, entre 8 a 17 anos. Já Kleber é natural do Estado E tem quatro filhas e seis netos. 

"Em Minas, eu não ficava nas ruas. Tinha minha casa e trabalhava. Quando tinha 12 anos, comecei a usar drogas. Estava em um relacionamento muito conturbado com conflito familiar e com meu ex-marido. Em 2017, decidi procurar melhorar de vida, um lugar que eu pudesse recuperar e me levantar. Foi aí que conheci o Espírito Santo. Queria voltar a estudar e fazer minha faculdade", disse Eloisa.

"Estava nas ruas há sete anos devido a problemas familiares. Brigava com minha ex-mulher e com minhas meninas. Preferi largar tudo e ir para as ruas", comentou Kleber.

Saudades

"Por mais errada que eu fui, sinto muitas saudades dos meus pais e dos meus filhos. Mas consigo me controlar. Às vezes, vou para o canto, grito sozinha e choro no travesseiro. Pretendo que eles venham aqui passear e me visitar. Sei que lá em Minas eles estudam e meus pais cuidam muito bem dos meus filhos. Meus familiares me fizeram enxergar que, se eu continuasse no caminho das drogas, nem sei se estaria aqui", falou Eloisa.

Paula M. Bourguignon
Eloisa e Kleber
Juntos há 1 ano e 3 meses, eles se conheceram no Centro-Pop e estão temporariamente na hospedagem noturna

Relacionamento

"Encontrei na Eloisa a seriedade. Ela se mostra muito sincera, uma pessoa digna para ficar comigo. Ela me completa e preenche os meus vazios", comentou Kleber.

"Nos conhecemos há 1 ano e 3 meses no Centro-Pop e ficamos muito amigos. Um dia ele me chamou para passear. Conversávamos bastante e trocamos alguns beijinhos. Aos poucos, foi ficando mais sério e estamos juntos até hoje. Encontrei nele o meu amor. Kleber me incentiva muito. Todos os dias falo que amo ele", declarou Eloisa.

Tratamento

"Às vezes, posso ter minhas recaídas, mas meu marido está sempre ao meu lado para me ajudar e me colocar de pé novamente. Faço tratamento todos os dias no Centro de Atenção Psicossocial (Caps). O Centro-Pop também me acolheu muito quando cheguei no município. Sou grata também à Hospedagem Noturna e à equipe da Escola da Vida", reconheceu Eloisa.

Recuperação

"Se pudesse falar com meus filhos, falaria para eles nunca se envolverem com drogas, nem cigarro, nem bebidas alcoólicas. Nas ruas, a gente passa frio, chuva e perigo e tem muita maldade. Pretendo dizer isso na frente deles: que um dia eu fui assim e hoje eu não sou mais", explica Eloisa.

Estudos

"Não adianta estar aqui na mesa e querer subir de avião lá no alto. Não posso deixar um espaço vago aqui no meio do nada. Hoje estou vencendo. Voltei a estudar no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes), no curso de Hospedagem", citou Eloisa.


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